terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mercado de Oportunidades.


Foi-se o tempo das vacas magras no mercado de trabalho dos engenheiros civis. Se na "década perdida" de 1980 a oferta de vagas era tão baixa que os recém-formados preferiam migrar para o setor financeiro, onde eram mais bem remunerados, hoje o aquecimento da Construção gera tanta demanda por profissionais qualificados que os alunos já são contratados antes mesmo de se formar. No entanto, mais do que engenheiros "genéricos", as empresas precisam de especialistas – em gestão, produção, orçamento, coordenação de obras, entre outros. E, com falta de "material humano" de qualidade no mercado, as empresas estão apostando cada vez mais na formação de seus próprios quadros internos.O setor está crescendo e deve continuar assim nos próximos anos. Incorporadoras e construtoras aproveitam o momento favorável para lançar mais empreendimentos. 

Com tantos projetos tocados ao mesmo tempo, a principal dor de cabeça dessas empresas é como supervisionar todas as obras simultaneamente e com qualidade. Dessa necessidade imediata deriva o primeiro dos campos de especialização mais promissores do mercado: o planejamento de obras.

O papel do engenheiro de planejamento é fundamental para determinar a velocidade e a estratégia com que as obras serão executadas. "Com o grande volume de lançamentos, cada vez mais o planejamento deverá ser elaborado como visão da empresa e não por cada gestão de obra", afirma o diretor técnico e de obras da Goldzstein Cyrela, Rogério Raabe. Para o vice-presidente do SindusCon-SP (Sindicado da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), Francisco Vasconcellos Neto, os engenheiros dessa área não podem se iludir, achando que basta dominar um software de planejamento para fazer bem seu trabalho. Em sua opinião, falta no mercado um curso de especialização forte nesse segmento.

Com o aumento do número de obras é preciso, também, lidar com um grande número de projetistas. Portanto, há espaço também para engenheiros capacitados em Gerenciamento de Projetos. O diretor de engenharia da CCDI (Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário), Cláudio Sayeg, cita três das principais competências necessárias a esse profissional. Primeiro, ele precisa ter um domínio técnico básico, mas amplo, das várias especialidades que compõem a edificação. Segundo, deve conhecer as tecnologias mais usadas no segmento de construção em que atuará – popular, comercial ou de alto padrão. Por fim, deve saber interpretar os diversos projetos de um empreendimento e identificar as implicações no orçamento, na execução, no cronograma etc. "Não basta ler superficialmente os desenhos, é preciso saber o que há em suas entrelinhas", explica Sayeg.

Outra implicação do mesmo problema é a crescente demanda por projetos disciplinares e de sistemas prediais – fundações, estruturas, instalações elétricas, hidráulicas, ar-condicionado, impermeabilização e assim por diante. Para os interessados em seguir por essas áreas de especialização, as perspectivas são atraentes. "Os projetistas contratados pelas construtoras acabam sendo sempre os mesmos, pois são os que têm mais experiência para atender às demandas do mercado", afirma o diretor presidente da Sinco Engenharia, Paulo Sanchez. "Há escritórios dispensando trabalhos porque não têm condições de atender a tantos pedidos."

A área de Engenharia de Produção na Construção é também apontada como promissora. "Faltam pessoas que façam projetos executivos de qualidade, que ajudem a melhorar a produtividade nos canteiros", revela Sanchez. Como exemplos, ele cita a carência por projetistas de fôrmas e de alvenaria. Rogério Raabe, da Goldzstein Cyrela, acredita que há muito também a ser explorado por engenheiros de Logística. "Esta função é muito importante para a produção devido à grande demanda por equipamentos, ferramentas e sistemas construtivos industrializados."

Para Luiz Henrique Ceotto, diretor de Construção da Tishman Speyer, a figura do engenheiro de manutenção também tende a adquirir importância dentro das construtoras. Trata-se de um profissional que supervisiona se os sistemas do edifício estão sendo projetados de forma a facilitar intervenções futuras para reparos e renovações. Atua também no pós-venda, realizando o levantamento estatístico e o diagnóstico das ocorrências de manutenção. "Ele deve ter domínio de elétrica ou hidráulica, mas precisa ser, antes de tudo, um engenheiro civil", explica.

Falta experiência

Depois de anos seguidos vendo os engenheiros civis formados migrando para outras áreas de atuação, as empresas do ramo da Construção vêm enfrentando dificuldades para encontrar profissionais qualificados para os cargos de maior responsabilidade.

Em uma trajetória normal, assumem os postos de gerência os funcionários mais experientes dos quadros internos, que já acompanharam pelo menos o ciclo completo de uma obra. Os promovidos, com auxílio financeiro da empresa, complementam seu conhecimento prático com uma formação teórica em cursos de pós-graduação de médio e longo prazo, como as especializações lato sensu e os MBAs. Porém, com o aumento repentino do volume de trabalho, as empresas não têm conseguido esperar que seus funcionários adquiram maior experiência antes de assumir tais postos. "Muitos aumentaram seu patamar salarial e de responsabilidade, mas em alguns casos não estavam preparados para isso", afirma Sanchez, da Sinco. "Pode ser que colhamos frutos não muito bons desse crescimento abrupto", alerta.

Para o professor Francisco Ferreira Cardoso, coordenador do curso de MBA em Tecnologia e Gestão na Produção de Edifícios da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, os engenheiros devem conter a ansiedade e não ter pressa para realizar sua pós-graduação. "Se o aluno tem uma vivência profissional maior, os conteúdos abordados são mais bem absorvidos, há uma troca de conhecimentos mais efetiva", explica. Na seleção dos alunos para o curso que coordena, Cardoso dá preferência àqueles que tenham entre cinco e sete anos de experiência de mercado. Alunos recém-formados até são admitidos, mas são exceções. "Geralmente não passam de três em uma turma de 30."

Esses cursos, portanto, não se prestam às empresas ou aos profissionais que procuram resultados mais imediatos. Para isso existem os cursos de curta duração, de até seis meses, criados pelas instituições de ensino para atender a demandas pontuais. "São cursos que oferecem conhecimentos em áreas mais específicas", explica o coordenador do Pece (Programa de Educação Continuada da Poli-USP), Jorge Luis Risco Becerra. "Eles também são procurados por ex-alunos de faculdades com currículos deficientes, que querem preencher lacunas na formação." Segundo ele, atualmente os cursos de treinamento da instituição mais procurados por engenheiros civis são os de Engenharia de Túneis e de Pavimentação.

FONTE: FEITEP


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