segunda-feira, 1 de julho de 2013

Resistência às eólicas cresce e setor tenta reagir


Os parques de energia eólica, uma fonte de energia limpa e barata, se espalham rapidamente pelo país. Mas a eletricidade gerada a partir do vento também começa a ser criticada por uma ala do setor de energia, que vê com preocupação a maior dependência em uma fonte de energia intermitente.
Sem vento, uma turbina eólica deixa de gerar energia repentinamente, risco que não existe com as termelétricas, que queimam gás, biomassa ou carvão de forma contínua. Mesmo com escassez de chuvas, uma hidrelétrica também não para de produzir energia abruptamente.

O sentimento antieólicas não aumenta apenas no Brasil, onde o governo passou a ser mais rigoroso com os empreendedores e fornecedores de equipamentos, a maior parte estrangeira. O movimento também é mundial. Tanto assim que a fabricante dinamarquesa de turbinas Vestas lançou neste mês uma campanha para combater o crescente lobby contra a indústria eólica na Austrália, um dos países onde a resistência ao setor é forte.

No Brasil, o presidente da Renova, Mathias Becker, também demonstra preocupação. O executivo afirma que o segmento é vítima de preconceito e que pretende conversar mais com vários representantes do setor de energia para desfazer algumas ideias, a seu ver, "equivocadas", como a percepção de que a eólica seria uma fonte menos confiável que a hidráulica.

É muito mais fácil ventar que chover, diz Becker. A ocorrência de precipitações depende de uma combinação de variáveis meteorológicas bem mais específica, o que faz com que as chuvas também sejam mais imprevisíveis. Os ventos também são mais contínuos. Com isso, a energia gerada por um parque varia menos que a produção de uma hidrelétrica sem reservatório, como as usinas mais novas.

Controlada pela Light/Cemig, pelo Fundo Infrabrasil, focado em infraestrutura, e pela RR Participações, dos empresários Renato Amaral e Ricardo Delneri, a Renova é a maior geradora de energia eólica do país, com mais de mil MW de capacidade instalada. 

Uma das medidas que causou neste ano indignação entre os empresários do setor foi a exclusão das eólicas do leilão de energia nova, que será realizado no dia 29 de agosto. Serão licitadas no certame usinas a carvão, uma das fontes mais poluentes, além de térmicas a gás e biomassa e hidrelétricas. Os contratos firmados no leilão passarão a valer a partir de janeiro de 2018. 
As eólicas serão licitadas em um leilão específico de energia de reserva, no dia 23 de agosto. Mas os projetos terão de estar prontos em dois anos, tempo bem mais curto que os cinco anos que as térmicas a carvão e a gás terão para concluir suas obras. "Queremos competir com o carvão. Somos contra essa proibição", afirma Becker.

Segundo ele, os dois anos de prazo para conclusão dos parques não são triviais e trazem várias consequências para os empreendedores e fornecedores, que precisarão montar uma operação de "guerra". "Não se trata de má vontade, é um problema físico", diz Becker, referindo-se às dificuldades que serão enfrentadas ao longo da cadeia de abastecimento. E os fornecedores certamente repassarão esse empenho aos preços, dizem os empreendedores.

Os obstáculos, porém, não tiraram o apetite dos investidores. A Renova inscreveu para o leilão 500 MW de parques eólicos na Bahia. Outra eólica, a Bioenergy, também afirma ter inscrito 500 MW. Ao todo, foram cadastrados 655 projetos, que somam uma capacidade instalada de 16 mil MW, o maior volume já inscrito até hoje.

Mas, desse total, é esperado que apenas uma pequena parcela seja de fato comercializada no leilão, algo entre 2 mil MW e 3 mil MW. O volume negociado dependerá do preço teto, que ainda não foi estabelecido.
Além do prazo exíguo para a construção dos empreendimentos, o governo aumentou as exigências para os fabricantes, obrigando-os a produzir no país os três componentes: torre, máquina e pás. Os fabricantes que não cumprem com os índices de nacionalização nessas três etapas foram excluídos da linhas de financiamento do BNDES. As mesmas exigências não são feitas para outros setores, queixa-se Becker. 
Sobre a abertura de capital da CPFL Renováveis, Becker responde: "Nunca torci tanto por um concorrente". A chegada de uma segunda empresa do setor na bolsa dará mais visibilidade e mais parâmetros para os investidores, diz o executivo.

A Renova fez sua estreia na bolsa em julho 2010 e, por enquanto, vem se saindo bem melhor que outras elétricas. Neste mês, enquanto o Índice de Energia Elétrica (IEE) da Bovespa acumula uma desvalorização de 12,5%, as ações da companhia subiram 0,58%. Em 2013, os papéis da geradora valorizaram 25%, enquanto o IEE recuou 13,3%.
FONTE: FEITEP

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